
Francisco Ferreira e Ana Rita Antunes (Quercus em Bali)
A Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas que agora terminou em Bali deveria constituir um objectivo fundamental para o assegurar O processo e conteúdos negociais para os próximos dois anos envolvendo todos os países (até final de 2009), de forma a assegurar a continuação após 2012 de um quadro de redução das emissões para os países desenvolvidos para 2020, uma visão de longo prazo de redução global para 2050, e ainda a consolidação de um conjunto de áreas associadas como a transferência de tecnologia, a capacitação institucional, o apoio à adaptação às alterações climáticas por parte os países em desenvolvimento, o financiamento e as questões da florestação e desflorestação, entre outras.
Muitas das reivindicações da Quercus e das organizações não governamentais de ambiente foram conseguidas na decisão da Conferência
Há um conjunto de aspectos que a Quercus considera positivos no Mandato de Bali: o ter início um processo formal e na prática interligado entre os países da Convenção das Alterações Climáticas e os países que ratificaram o Protocolo de Quioto através de Grupo de Trabalho Ad-hoc da Convenção sobre Acção Cooperativa de Longo-Prazo o ter sido estabelecida a data de 2009 para o final do processo negocial para definir o quadro pós-2012. O calendário dos trabalhos até à conferência de Poznan dentro de um ano poderia ser mais detalhado dada a urgência de acção e a demora no acordo e tomada de decisões, mas compreende-se que tenha sido genérico devido á falta de tempo negocial face a outros assuntos.
No que respeita à presença de números/metas na decisão da Conferência de Bali, os resultados ficaram aquém das expectativas iniciais. Os números em causa, inicialmente presentes no texto, mencionavam a redução de emissões no longo prazo (obter uma redução bem superior a 50% das emissões entre 2000 e 2050), a necessidade de, dentro de 10 a 15 anos as mesmas atingirem o máximo seguido de um declínio e a redução entre 25 a 40% das emissões dos países industrializados entre 1990 e 2020. O texto remeteu todos estes números através de uma nota de rodapé para as conclusões do Painel Intergovernamental das Alterações Climáticas onde estes dados estão claramente identificados.
A Quercus considera em relação às áreas da adaptação e transferência de tecnologia os resultados são aceitáveis. As questões da redução de emissões pela desflorestação e degradação da floresta e da alteração do uso do solo e floresta ficaram separadas, o que do ponto de vista da diferença entre assuntos a da abordagem em causa é visto como positivo.
Mandato de Bali é derrota para a actual administração Americana, tirando protagonismo ao processo paralelo que queriam conduzir através com os encontros das maiores economias mundiais, mas texto é demasiado ambíguo e abre caminhos potencialmente perigosos que precisam de ser corrigidos ao longo dos próximos dois anos
No que respeita à actuação dos diferentes países nesta Conferência, a Quercus destaca o enorme esforço de bloqueio da administração do Presidente Bush que condicionou a actuação dos Estados Unidos, secundados pelo Japão e Canadá. No que respeita à Austrália, depois da anunciada ratificação do Protocolo de Quioto esperava-se uma posição de liderança das negociações desta delegação, o que acabou por não acontecer pela indecisão própria de um novo Governo.
Haver um Mandato, é retirar protagonismo aos quatro encontros que os EUA têm programados até Junho de 2008 com as chamadas grandes economias mundiais e que os americanos procuram ser uma alternativa negocial voluntária ao processo das Nações Unidas na área do clima.
Porém, no texto final, os países desenvolvidos como EUA, Canadá e Japão, ganham o ficar explícito que podem ter compromissos mas também acções, o que é um termo mais frágil e menos vinculativo que as metas de redução que são o objectivo desejável – uma cedência para abrir uma porta de entrada aos EUA, que sabemos não será aproveitada por esta administração Americana, mas também uma porta de saída a países como o Canadá e o Japão que querem aliviar as suas obrigações actuais no quadro do Protocolo de Quioto.
Os países em desenvolvimento (denominados G77+China) estiveram nesta reunião com uma postura muito proactiva, em particular da China, apesar de no final, em conjunto com a Índia, terem obrigado ao prolongar da conferência já durante a manhã deste sábado. Também os EUA ainda tentaram alterações á proposta do Mandato de Bali mas sem sucesso, tendo às 14.30h, hora de Bali, sido aprovado o documento principal.
Os países que mais exigem mais perdem, e realmente a União Europeia em termos de conteúdo do Mandato de Bali lutou por mais mas não o conseguiu - assegurou afinal o processo cujos resultados vamos ver até que ponto ficarão dentro das expectativas de acção que a humanidade exige ao longo das negociações nos próximos dois anos.
A Quercus considera que a equipa negocial portuguesa que assumiu a coordenação das posições da União Europeia como presidência durante a Conferência cumpriu as expectativas, interagiu dentro do desejável com as organizações não governamentais europeias e com a Quercus, tendo a nível ministerial sido decisivo a sua acção nas últimas horas de negociação e na pressão interna e externa que colocou para um desenlace possível desta reunião.
A Direcção Nacional da
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza
Bali, 15 de Dezembro de 2007

Francisco Ferreira (Quercus em Bali)
As preocupações de segurança estão cada vez maiores com filas longas para uma suposta revista às malas e mochilas (mais para estrangeiro ver). Uma organização não governamental, a Climate Justice, num local próximo da conferência, montou um conjunto de cartoons gigantes cujas fotos irei mostrar nos próximos dias. Talvez seja de comparar o cartoon e a foto real da entrada de hoje. Honestamente não se percebe é o que faz um delegado com uma prancha de surf… não se enganou no local?
