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Segunda-feira, 3 de Dezembro de 2007

“É TEMPO DE AGIR”

Yvo de Boer
 
Yvo de Boer, o secretário executivo da UNFCCC (Convenção das Nações Unidas para as Alterações Climáticas) disse, no arranque da Conferência de Bali, que as soluções técnicas e cientificas para reduzir as emissões de GEE (Gases de Efeito de Estufa) já estão ao alcance dos países por isso o que “agora é preciso é vontade política”.
 
O mais alto responsável pela UNFCCC deixa uma pergunta no ar: “Senhores ministros qual é a resposta que tem para aquilo que a comunidade cientifica já demonstrou de uma forma clara?”.
 
Uma pergunta cuja resposta não vai ser dada em Bali já que o próprio Yvo de Boer adianta que «não se pode esperar que em duas semanas se chegue a um acordo económico e político, de longo prazo em resposta às alterações climáticas».
 
Assim, «se vierem aqui (a Bali) com a expectativa de que ao fim de duas semanas vamos ter novas metas de emissões para os países industrializados e vamos definir qual será o futuro compromisso dos países em desenvolvimento, então vão sair daqui desiludidos», sublinha o secretário executivo da UNFCCC.
 
Dai que o «o enfoque desta reunião seja a forma como vamos ter um regime climático de longo prazo no futuro»., avança Yvo de Boer.
 
E, de acordo este responsável espera que «saiam desta conferência três questões:
 
Primeiro, que no fim do segmento de alto nível possam acordar em lançar formalmente as negociações para um regime de combate às alterações climáticas de longo prazo.
 
Segundo, espero que esta reunião acorde qual vai ser a agenda das negociações.
Terceiro, esta conferência deve acordar numa data para o fim das negociações. Não apenas lança-las, não apenas definir a agenda, mas também definir quando é que as negociações devem ser concluídas.»
 
 
O secretário executivo da UNFCCC, sublinha ainda o facto deste ter sido um “grande ano” para o debate sobre o tema das Alterações Climáticas. Desde a atribuição prémio Nobel da Paz a Al Gore e ao IPCC (Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas), passando pela grande produção cientifica sobre o assunto onde se destacam os três últimos estudos “patrocinados” pelas Nações Unidas e que foram publicados nas vésperas desta conferência de Bali:
 
O relatório do IPCC sobre as últimas evidências da ciência do clima;
O estudo do PNUA (Programa das Nações Unidas para o Ambiente); GEO-4, que traça um “olhar global sobre o ambiente”; e,
O relatório anual do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), este ano dedicado à influência das Alterações Climáticas no desenvolvimento humano.
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publicado por bali às 00:22
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Sexta-feira, 30 de Novembro de 2007

GEO-4

 O Homem influencia o equlibrio do Planeta Terra

 

O quarto relatório do PNUA (Programa das Nações Unidas para o Ambiente) acentua como insuficientes os esforços globais na luta contra as emissões de GEE (Gases de Efeito de Estufa).

 

Na luta contra o aquecimento global, há uma “clara necessidade de agilidade”, afirma o documento, também conhecido como GEO-4 (Global Environment Outlook).

 

Os membros da equipa que elaborou o estudo reiteraram a necessidade das grandes nações industrializadas tomarem a iniciativa no processo. De acordo com estes peritos, o problema do aquecimento global pode ser maior do que se imagina, o que tornaria necessário diminuir em até 80% a emissão mundial de gases do efeito estufa.

 

Assim, embora não sejam novos, são inquietantes os diagnósticos e prognósticos do GEO-4, divulgados no final de outubro pelo PNUA. Porque, diz o relatório, “não há nenhuma grande questão levantada no documento Nosso futuro comum, em 1987, cujas tendências previstas sejam agora favoráveis”. E as conseqüências, afirma, são de “risco para a humanidade”, sobre a qual pesa a “ameaça de sobrevivência”.

 

Este relatório surge vinte anos depois da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (ou Comissão Bruntland) ter produzido o relatório inicial, intitulado Nosso Futuro Comum, que deu origem à cimeira da Terra, no Rio de Janeiro, em 1992.

 

O documento de 1987 lançou o conceito de “desenvolvimento sustentável”, aquele capaz de atender às necessidades das atuais gerações sem comprometer os direitos das futuras. Conceito que continua no campo das utopias, segundo o relatório agora escrito por 390 cientistas e revisto por outros mil.

É preciso “corrigir o paradigma do desenvolvimento centrado na tecnologia”, entendem estes cientistas e o director-executivo do Pnuma e subsecretário-geral da ONU, Achim Steiner.

 

Não permitir que os interesses de “grupos poderosos” continue a “influenciar as decisões políticas” e é imprescindível “deslocar o tema ambiental da periferia para o centro das decisões”. Se estas duas questões não forem aceites, “a conta que passaremos para os nossos filhos pode ser impossível de pagar”, dizem.

O documento corrobora os diagnósticos do IPCC (Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas) e considera necessário um corte radical nas emissões de gases poluentes da atmosfera, para evitar que a temperatura planetária suba além de 2 graus, com “danos maiores e irreversíveis” no clima.

 

Mas, o que é certo é que as emissões de GEE continuam a aumentar. E “parte do progresso na redução de emissões nalguns países desenvolvidos foi alcançada à custa do mundo em desenvolvimento, para o qual a produção industrial e os consequentes impactos causados são exportados”.

Por outro lado, hoje já são usados cerca de 50 mil compostos químicos e a utilização de mais 85% estão previstos para os próximos 20 anos. A chuva ácida cresce em toda parte. E o panorama na área dos recursos e serviços naturais só se agrava, com o consumo humano já superando a capacidade de reposição em mais de 30%. Os recursos pesqueiros continuam a reduzir-se, degradam-se as terras férteis, diminui a água de boa qualidade disponível, avança a desertificação. A extinção de espécies e a perda da biodiversidade ocorrem numa progressão inédita.

O GEO-4 alerta, assim, para o facto de que vivemos além dos nossos recursos. A população mundial hoje é tão numerosa que “a quantidade de recursos necessários para mantê-la excede os recursos disponíveis... a ‘pegada’ da humanidade [ou seja, sua procura ambiental] é de 21,9 hectares por pessoa, enquanto a capacidade biológica da Terra é, em média, somente 15,7 hectares por pessoa...”.

O relatório afirma que o bem-estar de bilhões de pessoas no mundo em desenvolvimento está ameaçado pelo fracasso em remediar problemas relativamente simples que foram solucionados com sucesso em outros lugares.

O GEO-4 recorda a declaração da Comissão Brundtland de que o mundo não enfrenta crises separadas – as crises ambiental, de energia e de desenvolvimento são uma só. Essa crise envolve não apenas mudanças climáticas e fome, mas outros problemas gerados por números humanos crescentes, o aumento do consumo dos ricos e o desespero dos pobres. São exemplos:

- diminuição dos cardumes para pesca;
- perda de terra fértil pela degradação;
- pressão insustentável sobre os recursos naturais;
- redução da quantidade de água doce disponível para humanos e outras espécies; e
- risco de que o dano ambiental atinja uma situação irreversível e desconhecida.

O GEO-4 afirma que as mudanças climáticas são uma “prioridade global” que requer vontade política e liderança. Mesmo assim, o relatório identifica “uma notável falta de urgência” e uma resposta global “inconsequentemente inadequada”.

Vários países com altas taxas de poluição recusaram-se a ratificar o Protocolo de Quioto.

Diz o GEO-4: que “alguns sectores industriais desfavoráveis ao Protocolo de Quioto conseguiram desmantelar a vontade política para ratificá-lo”. E,  continua: “Mudanças fundamentais nas estruturas sociais e económicas, incluindo mudanças no estilo de vida, são cruciais para alcançar progressos rapidamente”.

publicado por bali às 01:26
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QUESTÕES LEVANTADAS PELO GEO-4

ÁGUA

A irrigação já utiliza cerca de 70% da água disponível; ainda assim, para atingir o Objectivo do Milénio de reduzir a fome no mundo, a produção de alimentos deverá dobrar até 2050. A água doce disponível está diminuído: até 2050, prevê-se que o uso da água crescerá 50% nos países em desenvolvimento e 18% nos países desenvolvidos. Afirma o GEO-4: “o fardo crescente da procura por água tornar-se-á intolerável em países com recursos hídricos escassos”.

A qualidade da água também tem declinado, poluída por micróbios patogénicos e nutrientes em excesso. Globalmente, a água contaminada é a maior causa de doenças e morte de pessoas.

PEIXES

O consumo mais que triplicou entre 1961 e 2001. As pescas estagnaram ou declinaram lentamente desde os anos 80. Subsídios geraram excesso na capacidade de pesca, estimada em 250% maior do que o necessário para manter a produtividade sustentada dos oceanos.

BIODIVERSIDADE

As mudanças actuais na biodiversidade são as mais velozes na história humana. Espécies são extintas cem vezes mais rapidamente do que o analisado a partir de registros fósseis. Estima-se que o comércio de carne silvestre na bacia do Congo, na África, seja seis vezes maior do que a taxa sustentável. Dos maiores grupos de vertebrados analisados com profundidade, mais de 30% dos anfíbios, 23% dos mamíferos e 12% dos pássaros estão ameaçados.

Espécies intrusas estranhas ao ambiente também são um problema crescente. As águas-vivas-de-pente (ou “carambolas-do-mar”), introduzidas acidentalmente no Mar Negro em 1982 por navios dos EUA, dominaram todo o ecosistema marinho e destruíram 26 portos de pesca comercial até 1992.

Uma sexta grande extinção irá ocorrer, desta vez causada pelo comportamento humano. Atender a crescente procura por comida significará intensificar a agricultura (utilizando mais produtos químicos, energia e água, além de criações e culturas mais eficientes) ou cultivar mais terras. De ambas as formas, a biodiversidade será afectada.

Um sinal de progresso é o aumento contínuo de áreas protegidas. Mas elas devem ser geridas com eficiência e criadas adequadamente. E a biodiversidade (de todo tipo, não apenas a “megafauna carismática” como tigres e elefantes) necessitará cada vez mais de preservação fora das áreas protegidas.

PRESSÕES REGIONAIS

Este é o primeiro relatório GEO em que todas as sete regiões do mundo são enfatizadas quanto aos impactos potenciais das mudanças climáticas.

 

Em África, degradação do solo e mesmo a desertificação são ameaças; a produção de alimentos per capita diminuiu 12% desde 1981. Subsídios agrícolas injustos em regiões desenvolvidas continuam a impedir o progresso rumo a cessões maiores.

 

As prioridades para Ásia e Pacífico incluem qualidade do ar em áreas urbanas, pressão sobre água doce, degradação de ecosistemas, uso agrícola da terra e crescente produção de resíduos. A provisão de água potável obteve progresso notável na última década, mas o tráfico ilegal de resíduos perigosos é um novo desafio.

 

O rendimento crescente na Europa e o aumento no número de famílias têm levado ao consumo e à produção insustentáveis, maior gasto energético, péssima qualidade do ar e problemas de transporte. As outras prioridades para a região são a perda de biodiversidade, mudanças no uso da terra e pressões sobre água doce.

 

A América Latina e o Caribe enfrentam crescimento urbano, ameaças à biodiversidade, danos nos litorais e poluição marinha, e vulnerabilidade às mudanças climáticas. Porém, áreas protegidas cobrem actualmente 12% da terra e as taxas anuais de desflorestação  na Amazónia estão reduzindo.

 

A América do Norte luta para combater as mudanças climáticas, as quais se relacionam com uso de energia, crescimento urbano desordenado e pressões sobre recursos hídricos. Os ganhos na eficiência energética perderam o efeito por causa do uso de veículos maiores, padrões de baixa economia de combustível e aumento no número de automóveis e das distâncias percorridas.

 

Para a Ásia ocidental, as prioridades são pressões sobre recursos hídricos, degradação dos ecossistemas terrestres, costeiros e marinhos, gestão urbana e paz e segurança. Também preocupam as doenças relacionadas à água e a partilha dos recursos hídricos internacionais.

 

Nas Regiões polares já se notam os impactos das mudanças climáticas. A segurança alimentar e a saúde de populações indígenas são ameaçadas pelo aumento de mercúrio e de poluentes orgânicos persistentes no meio ambiente. A camada de ozono deve levar mais meio século para se recuperar.

O futuro

O Relatório GEO-4 reconhece que a tecnologia pode ajudar a reduzir a vulnerabilidade das pessoas às pressões ambientais, mas afirma que há, em certas ocasiões, a necessidades de “corrigir o paradigma de desenvolvimento centrado na tecnologia”.

 

O relatório explora como as tendências actuais podem resultar em quatro cenários por volta de 2050.

 

O futuro real será determinado em grande parte pelas decisões que os indivíduos e as sociedades tomarem agora, afirma o GEO-4: “o nosso futuro comum depende de nossas acções hoje, e não amanhã ou em algum momento no futuro”.

O dano causado por alguns problemas persistentes talvez já seja irreversível. O relatório alerta que o combate às causas profundas das pressões ambientais pode, por vezes, afectar os interesses consolidados de grupos poderosos capazes de influenciar as decisões políticas. A única forma de lidar com os problemas mais sérios é deslocar o tema ambiental da periferia para o centro das decisões: é o ambiente para o desenvolvimento, não o desenvolvimento em detrimento do ambiente.

“Houve chamados para a acção suficientes desde Brundtland. Eu espero sinceramente que o GEO-4 seja o último. A destruição sistemática dos recursos naturais da Terra atingiu um estágio em que é desafiada a viabilidade económica em todo o mundo – e a conta que passamos aos nossos filhos pode ser impossível de ser paga”, disse Subsecretário-Geral da ONU e Diretor Executivo do PNUA.

O relatório GEO-4 conclui que “enquanto se espera que os governos liderem a mudança, outros actores mostram-se igualmente importantes para garantir sucesso em alcançar o desenvolvimento sustentável. As necessidades não poderiam ser mais urgentes e a hora não poderia ser mais oportuna, a partir de nosso entendimento mais aprimorado sobre os desafios que temos pela frente, para agir agora e salvaguardar nossa própria sobrevivência e a de gerações futuras”.

publicado por bali às 01:16
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