Os negociadores chegam a bali com um tragédia ainda fresca na memória. O ciclone no Bangladesh lança uma questão muitas vezes esquecida: Vão passar a existir
360 milhões de refugiados ambientais por causa das alterações climáticas.
As previsões do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) são expressa no relatório deste ano (2007), que saiu esta semana.
A existência de refugiados ambientais é um dos aspectos mais evidenciados pelo director do relatório anual do PNUD, Kevin Watkins. Ele esteve recentemente no Bangladesh, um pais que mesmo sem o drama do último ciclone já sofria com as alterações climáticas.
No passado, a monção (a estação das chuvas) passava em quatro semanas e libertava as terras do Bangladesh para actividade agrícola, hoje em dia as terras ficam cobertas de água durante quatro meses, o que impossibilita as colheitas de arroz. É por isso que os dados do relatório do PNUD “levantam duvidas sobre o desenvolvimento da raça humana no futuro”, diz Kevin Watkins.
Vão existir problemas tanto na área da saúde como na educação e na alimentação. Para o director do relatório anual do PNUD este estudo “argumenta com a necessidade real de nos concentrar-mos com as ameaças de curto prazo que os países mais pobres enfrentam. Porque estes povos não tem acesso a reservas, nem sistemas de protecção contra as cheias, eles vivem na linha da frente das regiões onde as secas e as cheias ocorrem com mais frequência e possuem protecção mínima”.
Neste relatório o PNUD avisa para o perigo destes sintomas decorrentes das alterações climáticas se traduzirem em atrasos a longo prazo no desenvolvimento humano.
“Não são os países pobres que causam esta situação por isso o relatório do desenvolvimento humano é uma chamada de atenção aos países ricos”. Porque, “jogar à roleta russa com as pessoas mais pobres do mundo e com o futuro do planeta não é um jogo muito inteligente” conclui Kevin Watkins.
O RELATÓRIO
O relatório de Desenvolvimento Humano 2007/2008 apela a uma acçäo urgente e concertada de redução de gases com efeito de estufa em 80 por cento até 2050.
Intitulado "Combater as Alterações Climáticas: Solidariedade humana num mundo dividido", o Relatório de Desenvolvimento Humano 2007/2008 do PNUD afirma que a maioria dos países ricos não está a cumprir os objectivos acordados no protocolo de Quioto para a redução das emissões de gases com efeito de estufa, com principal ênfase para os Estados Unidos (EUA), Canadá e Austrália, embora
aponte também o dedo à União Europeia.
Apesar de algumas nações, como a França, a Alemanha, o Japão e o Reino Unido, terem reduzido as emissões em montantes modestos, os autores referem que as tendências actuais indicam que os países ricos ficarão aquém dos objectivos de redução das emissões traçados para 2012.
UE
Relativamente à União Europeia, o relatório aponta discrepâncias entre os objectivos politicamente acordados, como a redução em 20 por cento das emissões até 2020, e as actuais políticas de energia, bem como "uma falha
em alinhar" o Regime Comunitário de Comércio de Licenças de Emissão de gases
com efeito de estufa (RCLE UE) - o maior programa de limite e negociação
para as emissões de dióxido de carbono.
De acordo com o relatório, em 2006 foram comercializadas através da RCLE UE, 1,1 mil milhões de toneladas de equivalente dióxido de carbono (CO2), no valor de 18,7 mil milhões de euros, mais de 80 por cento da totalidade do
mercado global de carbono.
No entanto, na primeira fase do programa verificaram-se três falhas,
indica o relatório:
Em primeiro lugar, as licenças foram alocadas em excesso, o que aumentou artificialmente o seu valor, porque o seu limite fora fixado acima dos níveis
reais das emissões, após o que os preços caíram abaixo de 1 euro por tonelada
de CO2.
Em segundo lugar, geraram-se inesperadamente lucros significativos, sobretudo no sector energético. Como resultado, as empresas puderam ocultar as suas emissões através de quotas gratuitas, puderam passar os custos para os consumidores e beneficiar da comercialização do excesso de quotas.
Em terceiro lugar, fixaram-se limites para os leilões de licenças de emissões, privando os governos da possibilidade de mobilizar receitas, o que gerou ineficiência.
Assim, na segunda fase do RCLE UE, que decorre entre 2008 e 2012, os autores do relatório consideram justificar-se "que a União Europeia defina - e faça aplicar - objectivos mais rigorosos, alinhados com as metas de redução das emissões para 2020 na União Europeia".
EUA
O relatório é particularmente crítico em relação aos Estados Unidos e Austrália por terem assinado mas näo ratificado o Protocolo de Quioto e terem aumentado as suas emissöes nos últimos anos.
Contudo reconhece favoravelmente algumas iniciativas do sector privado
nos Estados Unidos, que foram bem sucedidas na redução das emissões em algumas
indústrias, bem como a liderança demonstrada por estados como a Califórnia
e cidades como Nova Iorque, que estabeleceram objectivos de redução de emissões.
Só que esta abordagem "voluntária" do país não está a funcionar como um todo, pois se por um lado o montante de emissões de gases com efeito de estufa - montante de emissões de gases libertados por dólar de produto interno bruto - desceu em 25 por cento desde 1990, o total de emissões de carbono subiu quase outro tanto.
Voluntarismo "näo tem sido suficiente para conduzir as trajectórias de emissões em sentido descendente na Austrália ou nos Estados Unidos. Em outras áreas de políticas públicas - defesa nacional, segurança nuclear ou regulação da poluição ambiental, por exemplo - os governos não considerariam depositar toda a confiança apenas em acções voluntárias", afirma o relatório.
Quanto ao Canadá, ratificou o Protocolo de Quioto, mas as suas emissões per capita têm-se aproximado das dos Estados Unidos, pois um crescimento rápido e intenso em carbono tem feito aumentar as emissões em 27 por cento desde 1990, ou seja, 33 por cento acima dos objectivos de Quioto.
MEDIDAS
Para reduzir rapidamente o carbono, o relatório propõe várias políticas,
como a taxação de carbono e medidas mais restritivas de limite e negociação.
O relatório salienta ainda que os EUA e a UE estäo a aplicar tarifas proteccionistas contra o etanol produzido à base de cana-de-açúcar, o biocombustível mais limpo e barato desenvolvido nas últimas décadas, resultando em perdas de eficiência económica e de mitigação das alterações climáticas.
O relatório mostra também que nos países em desenvolvimento uma em cada 19 pessoas foi afectada por catástrofes relacionadas com o clima, entre 2000 e 2004, enquanto que nos países desenvolvidos apenas foi atingida uma em cada 1.500, o que se explica por estes últimos terem os meios e os recursos para criar infra-estruturas resistentes às alterações climáticas.
Segundo o documento, estima-se que em meados de 2015 sejam necessários mais 86 mil milhões de dólares norte-americanos anuais - 0,2 por cento do PIB da OCDE - para esforços de adaptação para infra-estruturas de resistência ao clima e para construir capacidade de resistência nos pobres a efeitos de desastres ambientais.
Os autores notam, porém, que este valor "equivale aproximadamente a um décimo do que actualmente empregam nas despesas militares".
Milhares de cientistas em todo o mundo estão de acordo: “o aumento do nível do mar é consistente com o aquecimento global”. E, onze anos (1995-2006) dos últimos doze estão registados como sendo os mais quentes desde que existem registos climatéricos.
Foi apresentado e aprovado, em Novembro, numa reunião em Valência, Espanha o quarto relatório do IPCC, (como é conhecido na sigla em Inglês o Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas.
Este relatório sublinha que tudo o que foi previsto nos documentos anteriores está já a acontecer. Assim os efeitos do aquecimento global estão-se a dar de modo mais rápido do que foi previsto e o anteriormente foi projectado para 2020 e 2030 já está a acontecer.
”As emissões globais de gases de efeito de estufa devido a actividades humanas cresceram desde os tempos pré industrias”, sublinha o relatório. E, essas emissões aumentaram 70 por cento, entre 1990 e 2004, e esta subida faz prever que a temperatura também possa aumentar, no cenário mais dramático, mais 6,4 graus centígrados até ao final da década.
Se muitos cientistas consideram que acima dos dois graus o planeta ficaria numa posição pouco sustentável - e é para atingir esse patamar que a Europa quer trabalhar -, imagine-se o que poderia acontecer no pior dos casos com quase 7 graus de aumento da temperatura.
Na comunidade científica, o consenso está praticamente instalado: o aumento da temperatura agravará os fenómenos climáticos extremos: mais cheias, secas, ondas de calor, furacões e o degelo das calotes polares, responsável pela subida do nível do mar.
É por isso que o relatório diz que “o aumento do nível do mar é consistente com o aquecimento global”. A taxa passa de 1.8 mm por ano, em 1961, para 3.1 mm, em 1993.
Por outro lado a frequência de acontecimentos de forte precipitação aumenta na maioria das áreas do globo e de 1900 a 2005 os registos de pluviosidade cresceram em zonas como a Europa de Leste e a América do Sul, a Europa do Norte e a Ásia Central. Mas, em regiões como o Mediterrâneo, o Sahel, o Sul da África e o Sul da Ásia, a chuva está a escassear.
Com isto, “30 por cento da biodiversidade pode estar em risco”, destaca o relatório do IPCC..
O relatório sublinha também que já existem mecanismos e instrumentos disponíveis para lutar contra o problema do aquecimento global, embora impliquem gastar todos os anos milhares de milhões de euros. Mas acrescenta que, neste combate, não chega encontrar formas de mitigação da poluição, há que implementar medidas concretas de adaptação, pois as secas, as cheias, as inundações das zonas costeiras acontecerão mesmo que as emissões caiam abruptamente.
REACÇÕES
Mas mais do que validar dados científicos já expressos em relatórios anteriores e reafirmar que há 90 por cento de certezas de que as mudanças no clima se devem às actividades humanas, este documento síntese é uma ferramenta de trabalho essencial para o que aí vem. E foi esta a mensagem que o secretário-geral da ONU quis sublinhar. "Hoje os cientistas falaram de forma clara e a uma só voz. Espero que em Bali os políticos façam o mesmo", disse Ban Ki-moon, referindo-se ao encontro da Conferência das Partes, que decorre na Indonésia.
Ban Ki-moon considera que o relatório do IPCC traz respostas para muitas questões políticas e que o mundo se deve unir para encontrar um sistema que substitua o protocolo de Quioto, cuja vigência termina em 2012.
As reacções às conclusões dos cientistas não se fizeram esperar. O comissário europeu do Ambiente apressou-se a pegar nas palavras dos peritos para exigir medidas concretas em Bali, enquanto o primeiro-ministro britânico colocou o desafio do aquecimento global não só como uma ameaça ao ambiente mas também à paz e ao desenvolvimento mundial. Até porque, também aqui, serão os mais pobres a sofrer as consequências mais graves.
Os especialistas do IPCC, patrocinados pela ONU, pedem mais eficiência no uso da energia e defendem a utilização de formas renováveis de produção energética, com menos uso dos combustíveis fosseis (petróleo, gás natural e carvão).
O IPCC elaborou uma síntese de cerca de vinte páginas que vai servir de referência cientifica para os próximos anos, trata-se do chamado “Sumário para os agentes políticos”.
O que se segue é uma síntese por tópicos deste “Sumário”:
AVALIAÇÃO CIENTÍFICA
1- As mudanças climáticas são "irreversíveis" e as emissões de gases de efeito estufa provocadas pelas actividades humanas (principalmente pelo gás, o carvão e o petróleo) são responsáveis (em 90%) pelo aumento das temperaturas nos últimos 100 anos (+0,74º C). O CO2 lançado até agora pelas actividades humanas permanecerá ainda por muitos anos na atmosfera, com efeitos para o clima global.
2- A temperatura mundial deve aumentar entre 1,1 e 6,4°C em relação a 1980-1999 até 2100, com um valor médio mais seguramente compreendido entre 1,8 e 4°C. O aquecimento será mais importante nos continentes e nas latitudes mais elevadas.
3- O nível dos oceanos poderá, segundo as previsões, subir de 0,18 m a 0,59 m no final do século em relação ao período 1980-1999.
4- Os calores extremos, ondas de calor e fortes chuvas continuarão sendo mais frequentes e os ciclones tropicais, tufões e furacões, mais intensos.
5- As chuvas serão mais intensas nas latitudes mais elevadas, mas diminuirão na maioria das regiões emersas subtropicais.
6- O aumento da temperatura foi duas vezes mais importante no Pólo Norte do que na média mundial nos últimos 100 anos, provocando o derretimento acelerado da camada de gelo.
PRINCIPAIS IMPACTOS
1- "A mudança climática antropogênico (de origem humana) e suas consequências podem ser repentinas ou irreversíveis".
2- Inúmeros sistemas naturais já estão afectados e os mais ameaçados são a tunda, as florestas setentrionais, as montanhas, os ecossistemas mediterrâneos e as regiões costeiras.
3- Até 2050, a disponibilidade de água deve aumentar nas latitudes elevadas e em certas regiões tropicais úmidas, mas a seque deve se intensificar nas regiões já afectadas.
4- 20 a 30% das espécies vegetais e animais estarão ameaçadas de extinção se a temperatura mundial aumentar de 1,5 a 2,5°C em relação a 1990.
5- A produção agrícola deve aumentar levemente nas regiões de médias e altas latitudes (frias) se o aumento da temperatura se limitar a menos de 3°C, mas poderá diminuir se ultrapassar esse limite. Nas regiões secas e tropicais diminuirão assim que ocorra um aumento local das temperaturas de 1 a 2°C.
6- A saúde de milhões de pessoas se verá sem dúvida afectada pela desnutrição, a morte e as enfermidades vinculadas às ondas de calor, inundações, secas, tempestades e incêndios.
7- Nas regiões polares vamos assistir à redução dos bancos de gelo. No polo norte, o banco de gelo poderá desaparecer antes do final do século XXI.
8- O aumento do nível do mar ameaçará as pequenas ilhas.
9- Na Europa, as inundações, a diminuição da camada de neve e as ondas de calor colocarão em perigo inúmeras actividades económicas.
ADAPTAÇÃO E POSSÍVEIS SOLUÇÕES
1 - De 1970 a 2004, a emissões de gases de efeito estufa, responsáveis pela mudança climática, aumentaram 70% e, inclusive, 80% no caso do dióxido de carbono (CO2), o mais importante deles.
2 - Todos os sectores económicos estão envolvidos na redução dessas emissões até 2030.
3 - As medidas susceptíveis de limitar o aquecimento climático entre +2ºC e +2,5ºC, até 2100 em relação a 1990, terão um impacto inferior em menos dos 3% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2030.
4 - As energias renováveis terão um papel cada vez mais importante depois de 2030, assim como as reservas de CO2. A actividade nuclear também desempenhará um papel crescente.
O quarto relatório do PNUA (Programa das Nações Unidas para o Ambiente) acentua como insuficientes os esforços globais na luta contra as emissões de GEE (Gases de Efeito de Estufa).
Na luta contra o aquecimento global, há uma “clara necessidade de agilidade”, afirma o documento, também conhecido como GEO-4 (Global Environment Outlook).
Os membros da equipa que elaborou o estudo reiteraram a necessidade das grandes nações industrializadas tomarem a iniciativa no processo. De acordo com estes peritos, o problema do aquecimento global pode ser maior do que se imagina, o que tornaria necessário diminuir em até 80% a emissão mundial de gases do efeito estufa.
Assim, embora não sejam novos, são inquietantes os diagnósticos e prognósticos do GEO-4, divulgados no final de outubro pelo PNUA. Porque, diz o relatório, “não há nenhuma grande questão levantada no documento Nosso futuro comum, em 1987, cujas tendências previstas sejam agora favoráveis”. E as conseqüências, afirma, são de “risco para a humanidade”, sobre a qual pesa a “ameaça de sobrevivência”.
Este relatório surge vinte anos depois da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (ou Comissão Bruntland) ter produzido o relatório inicial, intitulado Nosso Futuro Comum, que deu origem à cimeira da Terra, no Rio de Janeiro, em 1992.
O documento de 1987 lançou o conceito de “desenvolvimento sustentável”, aquele capaz de atender às necessidades das atuais gerações sem comprometer os direitos das futuras. Conceito que continua no campo das utopias, segundo o relatório agora escrito por 390 cientistas e revisto por outros mil.
É preciso “corrigir o paradigma do desenvolvimento centrado na tecnologia”, entendem estes cientistas e o director-executivo do Pnuma e subsecretário-geral da ONU, Achim Steiner.
Não permitir que os interesses de “grupos poderosos” continue a “influenciar as decisões políticas” e é imprescindível “deslocar o tema ambiental da periferia para o centro das decisões”. Se estas duas questões não forem aceites, “a conta que passaremos para os nossos filhos pode ser impossível de pagar”, dizem.
O documento corrobora os diagnósticos do IPCC (Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas) e considera necessário um corte radical nas emissões de gases poluentes da atmosfera, para evitar que a temperatura planetária suba além de 2 graus, com “danos maiores e irreversíveis” no clima.
Mas, o que é certo é que as emissões de GEE continuam a aumentar. E “parte do progresso na redução de emissões nalguns países desenvolvidos foi alcançada à custa do mundo em desenvolvimento, para o qual a produção industrial e os consequentes impactos causados são exportados”.
Por outro lado, hoje já são usados cerca de 50 mil compostos químicos e a utilização de mais 85% estão previstos para os próximos 20 anos. A chuva ácida cresce em toda parte. E o panorama na área dos recursos e serviços naturais só se agrava, com o consumo humano já superando a capacidade de reposição em mais de 30%. Os recursos pesqueiros continuam a reduzir-se, degradam-se as terras férteis, diminui a água de boa qualidade disponível, avança a desertificação. A extinção de espécies e a perda da biodiversidade ocorrem numa progressão inédita.
O GEO-4 alerta, assim, para o facto de que vivemos além dos nossos recursos. A população mundial hoje é tão numerosa que “a quantidade de recursos necessários para mantê-la excede os recursos disponíveis... a ‘pegada’ da humanidade [ou seja, sua procura ambiental] é de 21,9 hectares por pessoa, enquanto a capacidade biológica da Terra é, em média, somente 15,7 hectares por pessoa...”.
O relatório afirma que o bem-estar de bilhões de pessoas no mundo em desenvolvimento está ameaçado pelo fracasso em remediar problemas relativamente simples que foram solucionados com sucesso em outros lugares.
O GEO-4 recorda a declaração da Comissão Brundtland de que o mundo não enfrenta crises separadas – as crises ambiental, de energia e de desenvolvimento são uma só. Essa crise envolve não apenas mudanças climáticas e fome, mas outros problemas gerados por números humanos crescentes, o aumento do consumo dos ricos e o desespero dos pobres. São exemplos:
- diminuição dos cardumes para pesca;
- perda de terra fértil pela degradação;
- pressão insustentável sobre os recursos naturais;
- redução da quantidade de água doce disponível para humanos e outras espécies; e
- risco de que o dano ambiental atinja uma situação irreversível e desconhecida.
O GEO-4 afirma que as mudanças climáticas são uma “prioridade global” que requer vontade política e liderança. Mesmo assim, o relatório identifica “uma notável falta de urgência” e uma resposta global “inconsequentemente inadequada”.
Vários países com altas taxas de poluição recusaram-se a ratificar o Protocolo de Quioto.
Diz o GEO-4: que “alguns sectores industriais desfavoráveis ao Protocolo de Quioto conseguiram desmantelar a vontade política para ratificá-lo”. E, continua: “Mudanças fundamentais nas estruturas sociais e económicas, incluindo mudanças no estilo de vida, são cruciais para alcançar progressos rapidamente”.
ÁGUA
A irrigação já utiliza cerca de 70% da água disponível; ainda assim, para atingir o Objectivo do Milénio de reduzir a fome no mundo, a produção de alimentos deverá dobrar até 2050. A água doce disponível está diminuído: até 2050, prevê-se que o uso da água crescerá 50% nos países em desenvolvimento e 18% nos países desenvolvidos. Afirma o GEO-4: “o fardo crescente da procura por água tornar-se-á intolerável em países com recursos hídricos escassos”.
A qualidade da água também tem declinado, poluída por micróbios patogénicos e nutrientes em excesso. Globalmente, a água contaminada é a maior causa de doenças e morte de pessoas.
PEIXES
O consumo mais que triplicou entre 1961 e 2001. As pescas estagnaram ou declinaram lentamente desde os anos 80. Subsídios geraram excesso na capacidade de pesca, estimada em 250% maior do que o necessário para manter a produtividade sustentada dos oceanos.
BIODIVERSIDADE
As mudanças actuais na biodiversidade são as mais velozes na história humana. Espécies são extintas cem vezes mais rapidamente do que o analisado a partir de registros fósseis. Estima-se que o comércio de carne silvestre na bacia do Congo, na África, seja seis vezes maior do que a taxa sustentável. Dos maiores grupos de vertebrados analisados com profundidade, mais de 30% dos anfíbios, 23% dos mamíferos e 12% dos pássaros estão ameaçados.
Espécies intrusas estranhas ao ambiente também são um problema crescente. As águas-vivas-de-pente (ou “carambolas-do-mar”), introduzidas acidentalmente no Mar Negro em 1982 por navios dos EUA, dominaram todo o ecosistema marinho e destruíram 26 portos de pesca comercial até 1992.
Uma sexta grande extinção irá ocorrer, desta vez causada pelo comportamento humano. Atender a crescente procura por comida significará intensificar a agricultura (utilizando mais produtos químicos, energia e água, além de criações e culturas mais eficientes) ou cultivar mais terras. De ambas as formas, a biodiversidade será afectada.
Um sinal de progresso é o aumento contínuo de áreas protegidas. Mas elas devem ser geridas com eficiência e criadas adequadamente. E a biodiversidade (de todo tipo, não apenas a “megafauna carismática” como tigres e elefantes) necessitará cada vez mais de preservação fora das áreas protegidas.
PRESSÕES REGIONAIS
Este é o primeiro relatório GEO em que todas as sete regiões do mundo são enfatizadas quanto aos impactos potenciais das mudanças climáticas.
Em África, degradação do solo e mesmo a desertificação são ameaças; a produção de alimentos per capita diminuiu 12% desde 1981. Subsídios agrícolas injustos em regiões desenvolvidas continuam a impedir o progresso rumo a cessões maiores.
As prioridades para Ásia e Pacífico incluem qualidade do ar em áreas urbanas, pressão sobre água doce, degradação de ecosistemas, uso agrícola da terra e crescente produção de resíduos. A provisão de água potável obteve progresso notável na última década, mas o tráfico ilegal de resíduos perigosos é um novo desafio.
O rendimento crescente na Europa e o aumento no número de famílias têm levado ao consumo e à produção insustentáveis, maior gasto energético, péssima qualidade do ar e problemas de transporte. As outras prioridades para a região são a perda de biodiversidade, mudanças no uso da terra e pressões sobre água doce.
A América Latina e o Caribe enfrentam crescimento urbano, ameaças à biodiversidade, danos nos litorais e poluição marinha, e vulnerabilidade às mudanças climáticas. Porém, áreas protegidas cobrem actualmente 12% da terra e as taxas anuais de desflorestação na Amazónia estão reduzindo.
A América do Norte luta para combater as mudanças climáticas, as quais se relacionam com uso de energia, crescimento urbano desordenado e pressões sobre recursos hídricos. Os ganhos na eficiência energética perderam o efeito por causa do uso de veículos maiores, padrões de baixa economia de combustível e aumento no número de automóveis e das distâncias percorridas.
Para a Ásia ocidental, as prioridades são pressões sobre recursos hídricos, degradação dos ecossistemas terrestres, costeiros e marinhos, gestão urbana e paz e segurança. Também preocupam as doenças relacionadas à água e a partilha dos recursos hídricos internacionais.
Nas Regiões polares já se notam os impactos das mudanças climáticas. A segurança alimentar e a saúde de populações indígenas são ameaçadas pelo aumento de mercúrio e de poluentes orgânicos persistentes no meio ambiente. A camada de ozono deve levar mais meio século para se recuperar.
O futuro
O Relatório GEO-4 reconhece que a tecnologia pode ajudar a reduzir a vulnerabilidade das pessoas às pressões ambientais, mas afirma que há, em certas ocasiões, a necessidades de “corrigir o paradigma de desenvolvimento centrado na tecnologia”.
O relatório explora como as tendências actuais podem resultar em quatro cenários por volta de 2050.
O futuro real será determinado em grande parte pelas decisões que os indivíduos e as sociedades tomarem agora, afirma o GEO-4: “o nosso futuro comum depende de nossas acções hoje, e não amanhã ou em algum momento no futuro”.
O dano causado por alguns problemas persistentes talvez já seja irreversível. O relatório alerta que o combate às causas profundas das pressões ambientais pode, por vezes, afectar os interesses consolidados de grupos poderosos capazes de influenciar as decisões políticas. A única forma de lidar com os problemas mais sérios é deslocar o tema ambiental da periferia para o centro das decisões: é o ambiente para o desenvolvimento, não o desenvolvimento em detrimento do ambiente.
“Houve chamados para a acção suficientes desde Brundtland. Eu espero sinceramente que o GEO-4 seja o último. A destruição sistemática dos recursos naturais da Terra atingiu um estágio em que é desafiada a viabilidade económica em todo o mundo – e a conta que passamos aos nossos filhos pode ser impossível de ser paga”, disse Subsecretário-Geral da ONU e Diretor Executivo do PNUA.
O relatório GEO-4 conclui que “enquanto se espera que os governos liderem a mudança, outros actores mostram-se igualmente importantes para garantir sucesso em alcançar o desenvolvimento sustentável. As necessidades não poderiam ser mais urgentes e a hora não poderia ser mais oportuna, a partir de nosso entendimento mais aprimorado sobre os desafios que temos pela frente, para agir agora e salvaguardar nossa própria sobrevivência e a de gerações futuras”.
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